quarta-feira, 2 de setembro de 2020

CCLXXII

O ser feito
É preferível
Ao perfeito

Cândida luz
Aurora!
Mais uma vez o amor
Irá embora

O que dizer ao coração
Desesperado
Sem saber o que dizer
Por estar desnorteado

E se eu ousar
Entrar por esta porta...

Lá! Além!
Vejo o pássaro debandando do bando
Vejo ele indo embora sangrando

Lá! Já vem!
O leão faminto
Que não quer comer por estar sozinho

Vejo muitas coisas
Foi-me dada a revelação
Para saber o que é alma
E ver o coração das coisas

Vejo
O Pecador ajoelhado
Que por tanto haver pecado
Cansou de pedir perdão

Vejo teu amigo ao lado
Que vinga de você amável
Por ter o sonho devorado
Por ter sido abandonado
(Óh! Besta do meu interior
Deixai-me lutar
Deixai-me livre de você
Para conquistar minha solidão)

Solidão é agora tua grande ambição
Foi o que escutei de tua oração
Oração profunda e singela

Cheia de graça
Semblante que se adorna com a desgraça
Olhar dentro de ti me congela!

Poderia ter falado menos...
Eis que ergo minha voz
Para calar-te então

O que te fará acreditar?
O que te fará tremer?
Vejo-te na escuridão

Mas por que ainda me fita nos olhos?
(Mas como ainda consegues me olhar nos olhos?)

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