I
Vejo o teu mar
De muitas águas
E nenhuma vida
Lá não se pode entrar
Senão em solidão
Lá não se pode ver
Senão após afogamento
Nele deságua
Todo o teu rio de alegrias
Mas o teu mar
Permanece salgado pelas lágrimas
Lágrimas mudas
Que não evaporam
Que aí permanecem
E teu mar transborda
Ira-se e envia ondas as margens
Que não regaram o deserto além
Águas do teu mar não sairão do lugar!
II
Não me surpreenderei ao vê-lo sangrar
Com a tranquilidade de um luar
Como quem gosta de brilhar no escuro
E vês as trevas predominarem
E luzes como reflexos do acaso
Porque negro é o teu mundo
Mundo que já foi azul
Mundo que já revelou suas cores
Mas depois que fez-se a revanche
Fê-lo manchado de sangue
Sangue
Que não mancha
dá a cor
Sangras muito
Seja nas batalhas
Seja no amor
III
Noite fria
Deserto!
E nele perde-se o rumo
Nas danças do vento
Não suportas o sol
Que a outros alegram
E por isso fazem festas e brigas
A ti deserto!
O sol te cega
E te castiga
E por que e por quem
Cheguei aqui?
Acaso por uma divindade?
Dai-me mais desertos!
Para que eu veja miragens!