sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Da Descoberta ao Despertar

I

Vejo o teu mar
De muitas águas
E nenhuma vida

Lá não se pode entrar
Senão em solidão
Lá não se pode ver
Senão após afogamento

Nele deságua
Todo o teu rio de alegrias
Mas o teu mar
Permanece salgado pelas lágrimas

Lágrimas mudas
Que não evaporam
Que aí permanecem

E teu mar transborda
Ira-se e envia ondas as margens
Que não regaram o deserto além
Águas do teu mar não sairão do lugar!

II

Não me surpreenderei ao vê-lo sangrar
Com a tranquilidade de um luar
Como quem gosta de brilhar no escuro

E vês as trevas predominarem
E luzes como reflexos do acaso
Porque negro é o teu mundo

Mundo que já foi azul
Mundo que já revelou suas cores
Mas depois que fez-se a revanche
Fê-lo manchado de sangue

Sangue
Que não mancha
dá a cor

Sangras muito
Seja nas batalhas
Seja no amor

III

Noite fria
Deserto!
E nele perde-se o rumo
Nas danças do vento

Não suportas o sol
Que a outros alegram
E por isso fazem festas e brigas

A ti deserto!
O sol te cega
E te castiga

E por que e por quem
Cheguei aqui?

Acaso por uma divindade?
Dai-me mais desertos!
Para que eu veja miragens!