Eu só fiz um castelo de areia
Com a disciplina de um monge budista
Deixo o mar desfazer a poesia
Deixo o mar desfazer o poeta
Eu enquanto poeta foi um acontecimento de eras passadas
Agora estou parado na estrada
Na esperança de encontrar no futuro uma oportunidade
De ser por um instante poeta mais uma vez
De deixar a poesia me desfazer mais uma vez
Eis aí o que fica eterno
A fronteira que separa Caos e Ordem
E unem-se em verso
Se disse de fronteira
Não digo mais
É apenas uma besteira
Que me atrapalhou o pensamento
Escrevi um descontentamento
E mais outro
E fui abaixo pela ladeira
Parei numa escada
Subi
E encontrei: Nada
Eis outro verso
Que me leva ao Universo
Onde mais uma vez
Não sou o que escrevi: - Paraíso!
Não mais preciso
De rima ou de paraíso
Eis que não fui conduzido
Mas conduzo
Até mesmo o que escapa de mim
Em Absurdo
Que quer toda a tirania de ser livre
Sai mais uma vez o verso
Pela porta da frente
E desta vez há de ser diferente
Pois sei o que me espera logo a frente
Me despeço de mim do outro lado do Rio
Quebram-se espelhos
Fluem as águas do Rio
Sou um Mar de Areias nadando
Andando
Até mais não me encontrar
Eis o meu definitivo encontro
O Verso Indefinido
Já sei escrever versos fáceis
E me contento que estes sejam fáceis
Para que haja dificuldade em minha alma
Em meu corpo
De lidar com estes
Eis a minha religião
Nego a transcendência
Para ter na boca apenas a eloquência
De estar mudo e calado
No cantar de todos os fados
Versos Alados!
Me desafio outra vez
No pleno instante em que conto minhas vitórias
Sem jamais celebrar
Me interno no ponto
Inferno no ventre deste ponto
Enterro neste ponto
Todos os versos que se livrarão de mim
Me retirarão com força da superfície
E nascerão: Jardim de Versos
Eis que aparece em minha alma
Uma vontade de escrever mais nada
E mais uma vez calar a minha alma
Na minha contemplação eis que surge uma voz
"Teu Silêncio precisa de nós
Os sós e os sóis novamente
Uma voz são vozes
Toda solidão e iluminação são estas vozes"
E eis que me admiro que todos os versos
Possam ser todos os sons
E cada som que me persegue
Diante do nada de inspiração a estes que ofereço
Nem sequer um esforço!
Eis o que me aparece diante do meu sufoco
E de minha oração...
Mas não nomeio estes versos
E eis que surge a sabedoria que não se compara
É sinfônia?
É coisa rara?
É nome? É nomear o meu apreço?
Eis que mais uma vez me desconheço
Mais uma vez despeço
Sinto-me perder toda a minha força
E eis que olho bem alto
A voz diz:
"Eu te agradeço
Eu te esqueço
Terás que ser lembrado
Mais uma vez"
E enfim: Nada tenho a escrever.