I
Não! Não posso te amar! Óh causa de divisão entre as Deidades
Devastamento de Cidades e Inimizades entre as Gentes
Não posso te amar
Porque quando o Amor me guiava
Me ensinou a frear qualquer misericórdia
Porque o amor não perdoa ninguém
E quem lhe é devoto ama sem piedade
E agora que o amor foi embora
Todos os ensinamentos ficaram
E nada restou de mim
Lamento não haver nada de mim e nem nada para te oferecer
Que apenas o vazio que carrego é o que tenho de abrigo
E que existe de maior que o Amor
Por isso tudo o que disse antes
Te nego agora
Vai-te e fica com o verso que permanece
Vá! Enfrente! E esquece o poeta de outrora.
Não posso te amar... Sou apenas um monumento de uma Era de Amores que se fez legendária
Não tome parte das ruínas e destas estátuas
Não temas a Deus! Olha para trás quantas vezes quiseres
Mas não ouses voltar atrás!
Siga em frente! Siga sempre em frente
Em frente! Óh! Tu que fostes tão Amada
Tu que fostes tão somente a Amada... A Minha Amada
Agora é aquela que se vai... Aquela que percorre caminhos
Aquela que abençoa as Estradas com suas passadas de Danças
Aquela que prepara suas tranças e se enamora com o Vento
Óh! Tu que é mais que uma Amada para mim
Desde que o Amor e Você se foram para longes de mim
E bem sei qual de vós jamais retornará
Eu vejo... Eu vejo
Vá! Vá!
E eu permaneço...
Olho sempre para frente
E não mais posso me mover
Oro no momento final de alguém que fora Amante
Óh! Ventania!
Leva-me! Leva meus sais e a minha poeira
Para perto dos caminhos de Aquela Caminhante
E nos movimentos dela terei de lá meu último instante
E essa será a minha porção na Terra
Então tu queres
Os Céus e a Natura quer
E as Deidades que te abençoam
E a satisfação me é trazida
Pela última brisa sentida
II
Uma Dançarina-Caminhante encontra seus presentes
Entre os mistérios de uma Neblina
Uma Dançarina-Caminhante encontra seus pertences
Entre as Paisagens que formam seus passos
III
Por que ela me atrai como nenhuma outra Amante?
Por que ela é - A Única?
Por que entre todas ela é o meu maior bem?
Por que ela me atrai como nenhuma outra Amante?
Por que tem que ser ela a Mulher da Minha Vida?
Por que estamos destinados e por que afinal devo concordar que está escrito nas estrelas?
Está escritos nas estrelas, no Universo, no Livro de Deus, na mão do Diabo...
É a Tatuagem que ficou no meu coração? Está lá escrito ou pintado?
Por que somos esta oposição de Sol e Lua?
Por que completamos um ao outro como Tempo e Eternidade
Luz e Trevas
Amor e Nada?
Por que somos criaturas e criadores?
Do grande amor e dos pequenos amores?
Por que somos nós escritores
Das histórias para que sejamos também atores...
Vontades... Destinos...
Se obrigando e se libertando
Fluindo como ondas no mar
Se acalmando como maremotos
Se afundando em rios
Encerrando mananciais e jorrando jardins...
Por que só Ela! Por que só Ela?
Criatura e Criadora
Invenção Inventiva e Inventora Inventada - Ah! Minha Amada!
Do meu Amor
Do meu Amor
Meu Amor ou Ela?
Quem é Ela? Que é Meu Amor? Ela?
Por que ela me atrai como nenhuma outra Amante?
Por que ela é meu sossego no Problema?
Por que ela é a resposta no Mistério?
Por que ela? Responda quem agora me ouve!
Deus, Deusa, Deuses, Deidades, Semi-Deidades
Seres-Tudo, Seres-Nada
Esse Amor me é absoluto
E se esse Amor não for
Eu e vocês estaremos perdidos
Nem existiremos, nem haveríamos existido
Em algum momento da ex-história que nunca houve
Este Amor é Absoluto
Se ao menos quiserem ser relativos
Dêem as respostas
Certas ou erradas
Mas que Sejam Amor
Amor Cigano
Amor Cigano
Sabes o nome
E os prazeres que lhe atormentam
Para tuas buscas de mim
Eu me afasto
Depois que meus dedos já terminaram a canção
Fique você com a emoção
Preciso me isolar para entender
Quão eterno pode ser
O Amor efêmero
Em minha visão
O Sol banhado e o eterno desafio do deserto
Das estrelas que não me deixam
Ao lado da Companheira - A Guitarra a tomar boa parte do horizonte
Eu vejo sua silhueta
Penso em ti e vou-me pensando em ti
Até que minhas mãos se agarram numa outra cintura
Para uma outra canção
De meu amor sem fim
Apraza a mim a doçura do seu amor
A maldizer todos os meus outros amores
A abraçar-me com a força de não me deixar partir
Eu me sinto amado e não vou embora
Se não estou mais ao seu lado
É o Destino que me abriu a porta
Que não me foi dado o privilégio de adormecer no amor sossegado
Que ninguém é forte o bastante para segurar o destino
Os mais fortes braços do amor
Sempre abrem mão da força em gentileza
A quem amando precisa partir com rapidez
E estou amando, estou amando, amores e Amor
Amores e Amor
Amor Cigano
Sabes o nome
Podes me chamar
Mesmo que sempre irei partir
O Desejo permanece
As vãs idéias e vãs eternidades desvanecem
Sou todo seu em qualquer instância
Chamas para teu corpo a lembrança
Assim como chamas a mim
E durante minhas serenatas e meus caminhos
Saberei aparecer de repente
Para você que me fecha as portas
E me abre a janela
V
Agora já não mais suspiro
E não insisto mais com as palavras
Que elas estão guardadas para um coração
Que elas estão presas dentro de um coração
Passarão ainda outros mil anos
E todas as intercessões das divindades
É que o reflexo deste amor não cai jamais em nenhum outro rio
Por Amor a todas as Fontes
Que não esta: Manancial de Loucuras de todos os Amantes
Não estamos livrados
Não seremos livrados
Assim será
As estrelas se fecharam por um tempo
Apenas para não contemplarem
Os malefícios do acaso
Que sentenciaram-nos
A nossa paixão
O Malefício escapa
Nós não escapamos
E por um mistério nos abraçamos
Para findar a Dança
Que nunca mais e nenhuma outra vez
Nos atreveremos a atravessar
Sim! Fizemos monumentos de prazer
Imponentes!
Mas são sepulcros da alma
Martírios para o ser
E agora
Somos ausentes
Somos ausência
Então em nossa demência
Pois acreditamos sem pestanejar
O que é e o que queremos do Amor
Estamos juntos, entre abraços
E beijos
A face de um sonho adornando
Nós em um mesmo pesadelo
Chorando devaneios alegres
E as lágrimas se evaporando
Como nossas almas
Para bem longe
Para bem longe
Do nosso amor que só dura um beijo
Que só dura um relance que contempla a face
Face de Amor perfeita
Corpo da Dor Eleita
- Encarne-se!
Fujo de teu brilho como fujo agora das estrelas a amaldiçoarem nosso amor
Que elas não guiam a quem os céus ignoram
Para almas pobres e vulgares que não se iluminam com nada e que se acham a luz do mundo
Estou compelido ao teu prazer
Ao meu desfazer de mim mesmo
Em tua cama, em tua chama
E incendeias e incendeias
És glorificada
No meu amargor e dor selvagem
Tu te embalas
E no fim da noite e no começo da Balada
Nossos corpos cheios de torpor
Nossas almas cheias de nada
Nos devoramos
E nada entendemos
Os Demônios não tem mais parte de nós
A não ser entregar flores queimadas
Por adoração a nossa ignorância
A nossa tolice de profanar o Amor
Adorando-o
Aqui não tem beleza
Banquete de vazios sobre a nossa mesa
E em nossa maior insanidade
Caminhamos juntos e nus perante o dia
O registro do absurdo possibilidade nascido feitio faz a Fortuna nos sorrir
Em ironia
Nós sorrimos de volta
Porque somos reflexos apenas
Espectros a cumprir pena
Luas falsas incapazes de reluzir
Pois não a nada aqui para a luz adornar e revelar
Prendamo-nos uns nos braços do outro
Mesma coisa somos
Ausência de verdade
Ausência de identidade
Que pode ser dividida por convenção
Eu te desejava e tu querias nada
Agora somos arrastados por vontades e desejos cegos
Que nos mantém reféns
Um do outro
Onde somos réus e juízes
Então aplicamo-nos a pena mais triste batendo o martelo: - Nós!
Agora chama das horas tristes!
Vem cá para que lhe conte o segredo
Te levarei para o Jardim
Te erguerei um altar
Pois só tu Amor Horrendo
É que queres me sacrificar
Sacrifica-me
Sacrifica-me
Queira As Divindades da Misericórdia
Te escutar e capacitar o Tempo para que traga boa oportunidade
Existem muitas mentiras no movimento de teu corpo
Eu que conheço seu corpo de cor
E tão pouco de suas mentiras
Volta para mim! Sinto sua falta
Como o deserto sabe que será regado pelo escaldante sol
Para florescer cemitérios de flores
E Rosas Negadas pelas Trevas
Vais mais alto e ascendes
As falsas musas vão contigo te sendo asas
E eu num momento mais estranho
Ergo para ti construções que glorificam teu nome
E te adoro ainda mais insano
E então a Chuva de nós Amantes renegados enfim pode
Fustigar as humanas gentes desejosas
Com a negação de desejos e de verdades
Com o Amor Profano
Não perco mais tempo pensando
Vou para o céu dos inglórios junto a ti
E em nosso ir juntos
A Culminação de todos os nossos enganos
Vou te seguir, vou te seguir
Te amaldiçoando com minhas juras de amor
Tu vais sonhando-me e sonhando-me
Fustigas-me com teus sonhos bons forjados no inferno
A manhã - chega
O exorcismo de nossa Alma Primeira
Brilha forte no lugar do Sol
Fugimos para o Amor
Dançando insanamente
E somos enfim selados em uma profundidade
Por obra do Amor que ao Mundo retorna
E então mais juntos estamos
Menos somos até não sermos
Enfim cessam-se os tormentos
Caem as mentiras
E encerramos nossa lenda
Com nossas juras de nos prendermos
E de acabarmos um ao outro
Eternamente! Amor!
VI
- Esquecimento fácil
e gostar intensamente
Livramento para as humanas gentes
VII
É tua a culpa
Da mirada solitária
Da caminhada perdida num Jardim de Amantes
É tua a culpa
É tua a vinha
Passarão milhares de amantes por meus braços
Passará nenhuma por meu coração
Gritei e gritei
Deus me livra! Deus me livra!
- Não livrará
Sussurrou-me um Anjo
- É tua a Culpa
É tua a Musa
Que Deus não livra ninguém
Do castigo que lhe cabe
Ainda mais se escolheu tal Musa Encantadora
Então se apraze
De lhe ser aplicado o mais cruel castigo
Com a mais Bela Face
- Não, não vás agora
Não torne suas costas para mim
Anota teus sofrimentos num papiro
Minha revelações para a humanidade
Que aos Anjos obrigar a outrem a mensagem que lhe cabe é Dever
E escolher dos mais desgraçados os mais nobres profetas
Um Prazer
Não explicado e em nenhum momento se explicará
Ah não ser alguma sorte de anjos que cairá
De vós se apiedando em contar
Com as asas cortadas: Silêncio
Decifra dos anjos o enigma
Que mais querem lhe contar
Não podendo senão em silêncio
As revelações do planos de Deus para vós
Ah! Quem de vós decifra enigmas em silêncio aos quais devem ser respondido pelos calados?
Desconheço
Por isso vos devorará em segredo por Eras
A Imortal Quimera
Fica a vós contar a ausência das gentes
Que gostaríeis que habitassem a terra e não nascem e não vêm
Apenas a vós
Apenas vós
E a Imortal Quimera
E o Eterno Silêncio
Indecifrável
Com os Mudos Anjos
Que ninguém ouve
E nem ouvirá
Que assim seja!